quinta-feira, 6 de dezembro de 2012



“Não é assim que se faz...é melhor dizer a verdade”

                                                                                                                      Paulinho da Viola

As Escolas de Samba, reacendem alguns questionamentos que ao longo dos últimos anos acompanham a vida das agremiações do samba. A fala recorrente trata do financiamento público do Carnaval, não como um investimento turístico de elevado impacto na economia da cidade. Ao contrário, trata o evento do Carnaval de Florianópolis como uma despesa abominável, que merece ser diminuída ou eliminada.
Recentemente a festa do Carnaval ingressou na agenda do orçamento público municipal. Antes desse tratamento ser estabelecido, a relação era marcada pelo preconceito e desrespeito à função pública, economia e histórico-cultural das Escolas de Samba em nossa sociedade.
Esse tratamento descortês decorre da compreensão das elites econômicas e governamentais que se negavam e, continuam a negar o caráter cultural de importância étnico-racial, para a população negra dessa cidade. Pois em Florianópolis, como em qualquer outro lugar do Brasil, as Escolas de Samba cumprem em papel agregador nas camadas populares (brancos e negros proletários), em maior expressão percentual.
Então, não é só um espetáculo, onde a maioria dos populares “quer gastar” o dinheiro público de forma irresponsável e escandalosa. A Escola de Samba é um espaço vital para as aspirações civilizatórias dos egressos da escravidão, que a inventaram para processar uma ressocialização, experimentada no continente africado.
Os sons derivados dos batuques, as cores quentes e vibrantes, os movimento frenético e/ou harmoniosos dos bailarinos do samba, assim como o canto ancestral reinventaram um lugar para não se morrer de Banzo (uma saudade capaz de levar a depressão). De acordo com os registros históricos, Ismael Silva (compositor) foi o criador da primeira Escola de Samba em 1928 – “A Deixa Falar” – no Rio de Janeiro.
Tal invenção subverteu a ordem governamental idealizada contra os recém- libertos, pois vislumbrava o desaparecimento das futuras gerações de afro-brasileiros. Portanto, a criação das escolas de representou um espaço que se consagrou como capaz, de minimamente, de esboçar um modo de vida; um arranjo social para construção de vínculos sustentados por uma solidariedade, desejosa de organizar elementos fundadores de uma nação na diáspora.
É assim a Instituição Escolar de Samba, território de resistência histórica e cultural, local de recomposição das memórias ancestrais e, ao mesmo tempo se constitui em ambiente projecional futurista, de planos de continuidade para as gerações vindouras de afrodescendentes e, com quem mais queira participar desse ideário transformador, que é o fermentado pelo samba.
Nesta compreensão, é necessário falar para os mais jovens, para os de pouca relação com esse universo ou para aqueles que insistem nas TESES POSITIVISTAS da tecnocracia recorrente, relacionadas às Escolas de samba em Florianópolis. Então é necessário dizer:
1)    A inscrição no orçamento municipal representa em avanço organizacional da festa;
2)    Historicamente (observando os registros), o mês de janeiro comportou o agendamento e a efetivação dos repasses contratados nos convênios com as Escolas de samba;
3)    Mente ou ignora aquele que diz que o dinheiro destinado às escolas de samba compromete o funcionamento da saúde, pois este serviço possui em rubrica própria no orçamento. O prefeito eleito Cesar Souza Júnior foi à mídia, no dia de hoje, dizer que não vai “dar” dinheiro para esses serviços. Já estão garantidos pela constituição federal e, por Lei Complementar federal. A educação tem o percentual de 25% dos impostos para nela aplicar; de acordo com a constituição federal. A saúde, como a manda a Lei nº 141 de 13 de janeiro de 2012, deve receber, no mínimo 15%, dos impostos arrecadados.
Então o prefeito eleito, está mentindo e procura jogar a população contra as entidades do samba que muito fizerem para construir uma imagem positiva da cidade. Cesar Souza Júnior é prefeito eleito de curta vida pública e sem nenhum vínculo com as comunidades de Florianópolis, muito menos com as tradições da população negra, que tem na Escolas de Samba sua maior festa e representação social. Ele não tem o direito de chegar de uma hora de para outra e, acabar com as nossas tradições. Cabe registrar que ele sabia de toda a situação financeira do município e das responsabilidades imediatas, no inicio da administração.
4)    O orçamento público que ordena os gastos com a saúde e o carnaval será aprovado até o dia 15 de dezembro de 2012; como tem acontecido nos últimos anos;
5)    O município pode receber recursos financeiros para investir na saúde, da parte do Governo Federal, para tento precisará ter competência em apresentar projetos;
6)    As licitações para o acontecimento do carnaval podem ainda ser efetuadas legalmente, se houver vontade e competência, é possível fazer. Quando fui Secretário de Turismo realizamos todos os processos licitatórios em menos de 40 dias, trabalhamos nas madrugadas para compensar a escassez de tempo; pois a Secretária de Turismo possui excelentes funcionários com condições de organizar a festa em curto tempo.
7)    A rigor o que está se organizando é a tentativa de desconstruir toda uma tradição de administração pública do carnaval. Querem tirar a prefeitura do processo público da administração da festa. Há um interesse declarado, pelo próprio presidente da Liga em PRIVATIZAR o desfile. Cabe refletir sobre a existência de uma intensão de se criar um aparente e irreversível caos gerencial e financeiro, com a força de fazer a população acreditar na inviabilidade. O passo seguinte será o de decretar a falência total do gerenciamento do carnaval pelo município e, logo aparecerá a sugestão de “alguém”, privativamente assumir a condição do processo como o salvador da festa; assumir a passarela Nego Quirido e outros ­­­foguedos do carnaval por toda a cidade;
8)    A sociedade, por intermédio, da prefeitura muito já investiu na organização do carnaval de Florianópolis, que possui um grande potencial e valor, e que a sua realização, faz ingressar através dos impostos arrecadados, os recursos para o financiamento de muitos serviços públicos.
9)    Todos que vendem passagens, alimentação, hospedagem transporte, lazer, ambulantes, venda de energia elétrica, e água etc... Esses todos repassam receitas na forma de impostos para a prefeitura reaplicar na manutenção de seus serviços.
10)  A regra é assim: na despedida de mandato o prefeito que encerra paga as duas parcelas do carnaval e o prefeito novo que assume é responsável pelo pagamento das demais parcelas. Sempre foi assim! A responsabilidade é impessoal e intrasferível, ou seja, é daquele que quis ser prefeito, neste caso o senhor Cesar Souza Junior.
11) É preciso dizer que ninguém é bobo e, que todos sabiam, especialmente os candidatos (as), que a primeira grande realização da temporada é a realização do carnaval. Durante a campanha eleitoral nenhum candidato disse que não iria realizar o desfile das Escolas de samba. Assim sendo, consideramos que a estratégia do Cesar Souza Junior é sustentada por uma falsa polemica, de transferência de responsabilidade e, ao mesmo tempo de abrir os portões da concentração do desfile para o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Unidos da Privatização, cujo irredo nós já sabemos, e diz assim: Eu quero sim, é me arrumar, eu quero lucro e privatização já!

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