Em 2012 completará 52 anos do massacre de Shaperville, na África do Sul, na cidade de Joanesburgo. Vinte mil protestantes manifestaram-se contra a Lei do Passe, que os obrigava a portar cartões de identificação, que determinava os locais onde eles podiam circular, na sua própria terra.
Neste período do regime racista chamado de APARTHEID, a população negra recebia tratamento de campo de concentração, tal qual o empregado pelos nazistas, especialmente, contra os judeus.
Durante esta manifestação de 21 de março de 1960, a polícia atirou contra os ativistas, matando 69 pessoas e ferindo 186.
Em memória aos mortos, a Organização das Nações Unidas, instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial.
A rigor, é uma chamada de atenção global para os casos que persistem, em todos os lugares, onde as desigualdades, por conta de critérios raciais, se estabelecem, vitimando gerações de forma contínua e intensa, como é o caso do Brasil, país onde a escravidão teve duração de quase 4 séculos, marcados pelas violações humanitárias, que, até hoje, comprometem a vida dos herdeiros africanos.
Somos mais de 80 milhões de descendentes de africanos que ainda buscam o estatuto da cidadania brasileira, pois há uma complexa e extensa rede de interesses econômicos e políticos, determinados a manter os históricos privilégios de classe social e grupo étnicos de origem Européia.
A elevação das condições materiais e imateriais dos afro-brasileiros está diretamente relacionada as suas lutas de resistência contra os efeitos da escravidão, que, por intermédio do racismo, discriminação e preconceitos, continuam dificultando ou impedindo o exercício, em bases de igualdade, aos direitos fundamentais da pessoa humana, nos setores político, econômico, social e cultural ou qualquer outra área pública ou privada.
Ainda para os negros há uma espécie de “liberdade condicional”, pois sempre estarão na necessidade de provar alguma coisa a alguém, em qualquer área ou em qualquer hora.
Por outro lado, a estratégia racista e isolacionista contra os negros e seus descendentes reside na manutenção dos níveis de ascensão sócio-econômicos bastante reduzidos, quase imperceptíveis do ponto de vista estatístico.
Dentre as ações monitoradas para o não crescimento, estão:
A) As ações afirmativas, que se constituem num amplo programa de inclusão sócio, econômico, cultural e educacional, sendo que, a mais atacada é a política de cotas para o ingresso dos negros no ensino superior, destinada a romper com o ciclo de pobreza e miséria, face ao forte potencial que, inclusive, o portador de titularidade de educação superior passa a ser detentor;
B) As cotas para ingresso no serviço público, considerando que o estado é um grande empregador, tornando-se necessário que o mesmo seja submetido à lógica de ocupação proporcional, das suas vagas, em se tratando de representação por gênero, grupos étnicos e portadores de necessidades especiais;
C) Também no âmbito dos partidos políticos (todos) tratam os negros (as) com olhares desiguais e subalternos, vendo-os apenas como peça de retórica eleitoreira, sem, no em tanto, prestar-lhes solidariedade ativa, nesta saga, desde os navios chamados TUMBEIROS. Aí, exatamente, limitam e dizem , codificadamente ou não, “qual é o lugar dos negros (as)”;
D) A Lei Federal 10.639, que institui o ensino da história e cultura nas escolas públicas, no Brasil é sistematicamente esquecida. Cinicamente, diretores escolares e professores, apoiados pelas autoridades (Secretários de Educação Municipais e Estaduais), que não se esforçam para se adequarem à LEI, estes dizem que não sabem como ensinar ou falar das coisas de ÁFRICA, pois não possuem material didático e outras referências pedagógicas;
E) O combate às doenças, que mais atingem as populações de origem africanas, como as cardiopatias e anemia falciforme, raramente merecem abordagens planejadas e de permanente atenção por parte do poder público, que não manifesta interesse em combater, conscientizar e prevenir a população contra essas patologias.
Cremos, portanto, que o dia 21 de março é uma data UNIVERSAL, para trazer, à lembrança , os mártires, que, em Shaperville, em 1960, lutavam pela liberdade de ter uma vida digna e, que esse esforço não foi em vão, visto que, ainda pelo mundo, inclusive no Brasil, os negros precisam mostrar seus documentos como se fossem PASSES, aos policiais, posto que ainda somos suspeitos, como se fosse na África do Sul de Mandela, de Stive Bico, Desmond TUTU e outros irmãos.
É possível, ainda, escutar os gritos de horror daquele dia 21. E a cada ferimento promovido pela discriminação, no mundo, as vítimas se levantarão para protestar e dizer que a caminhada deve prosseguir!!
Márcio de Souza – vereador
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